É Natal...Natal do consumismo...milhões em compras..de quem tem..de quem se endivida..de quem quer mesmo ofertar à família por um sentimento puro de amor ou amizade..mas também de quem quer apenas ostentar...cumprir uma tradição pela qual nada sente.
Mas a vida é assim... continuemos a festejar o Natal ..festejemos também o Novo Ano sempre na esperança de dias melhores ..que nunca mais vêm.
Pessimismo? Será?
Ou apenas realismo?
Fernando Marques , Jornalista Era uma vez uma senhora com artes feiticeiras e muito abastada que se chamava D. Banca. Criatura generosa e simpática, D. Banca emprestava dinheiro a toda a gente, mesmo a quem não queria dinheiro emprestado. Aparecia sorridente na televisão e oferecia paraísos, futuros risonhos, amores eternamente felizes. Andava-se na rua, no metro, nos autocarros, nos comboios, e lá estava a pródiga D. Banca, a bondade em pessoa, a dizer, como Deus, "Pedi e ser-vos-à dado". O povo do país da D. Banca não cabia em si de contente. Estava habituado às grosserias da D. Austeridade e às vilezas do D. Fisco, que vinham com os seus cavalos negros e levavam quase tudo do pouco que havia. D. Banca não era assim. Era uma alma aberta e piedosa, uma bênção dos céus. E então o povo entregou-se. Comprou casas, comprou carros, comprou férias e mobílias. D. Banca dizia peçam, peçam. E o povo pedia, pedia. D. Banca dizia: casem-se, casem-se. E o povo casava, casava. E quanto mais casava, mais carros e casas queria, e mais D. Banca emprestava. Era o tempo da abundância. D. Banca sorria de ver o povo no fausto e na glória. E, para que o povo pudesse gastar ainda mais, enviava-lhe pelo correio belos cartões de crédito, prateados, dourados, azuis, vermelhos, com cartinhas amáveis e prospectos coloridos que mostravam tudo quanto estava à mão dos felizes titulares. E o povo ia a Cuba, à República Dominicana, a Londres, a Praga, a Nova Iorque, o povo viajava e instruía-se com o doce dinheiro da D. Banca. Até que um dia o D. Estado, líder supremo do país da D. Banca, veio a terreiro, pela voz do seu lacaio D. Governo, anunciar uma crise. As empresas faliam. O desemprego disparava. Os juros subiam. Veio D. Austeridade com os seus rigores. Veio D. Fisco com a sua peçonha. D. Estado pedia e o povo dava o que tinha e o que não tinha, senão ia parar à lista negra. E quando chegava a carta da D. Banca, não havia dinheiro para lhe pagar. D. Banca já não sorria. Rugia, amedrontava, maldizia. Confiscava casas, carros e mobílias. E o povo pensava coitada da D. Banca, deve estar numa aflição. E fazia o que podia, não comia, não bebia, para lhe poder dar a mão. Pobre D. Banca, um tão grande coração. Mas quando, ao fim de um semestre, D. Banca saiu à rua, ninguém queria acreditar no que via ao contrário do país, estava gorda, luzidia. Mas que raio? - resmungou o povo. Nós para aqui a tinir e ela ali toda assoprada? E foi assim que o povo soube que D. Banca, afinal, nunca - mas nunca - lhe deu nada... Fernando Marques escreve no JN, quinzenalmente, aos domingos | |||
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